É possível corrigir uma mutação genética?
- faissolnatalia
- 12 de ago.
- 3 min de leitura
Sim, já sabemos pela ciência que é possível corrigir uma mutação genética, usando técnicas de edição de genes. A mais promissora dessas técnicas se chama CRISPR-Cas9. Essa ferramenta funciona como uma tesoura molecular muito precisa, capaz de cortar e modificar partes específicas do DNA em qualquer ser vivo.

O mais interessante é que a técnica se baseia em algo que a natureza já criou: um sistema que as bactérias usam para se defender de vírus. Os cientistas adaptaram esse mecanismo natural e transformaram numa tecnologia revolucionária que pode ser utilizada em várias áreas. Na medicina, tem grande potencial para tratar doenças genéticas.
Como funciona a CRISPR-Cas9
Para entender como os cientistas utilizam o CRISPR-Cas9 podemos imaginar que o DNA é como um livro gigante com bilhões de letras. Para corrigir um erro específico nesse livro, seria preciso procurar a palavra errada. Para tornar isso possível, o CRISPR usa uma espécie de “GPS Molecular” formado por dois recursos principais:
RNA guia (gRNA) que é como o "endereço" que diz onde está o trecho do DNA que queremos editar.
Proteína Cas9 que funciona como uma "tesoura” muito precisa que corta o DNA no endereço indicado. Depois disso, a célula naturalmente se recupera e, nesse momento, os cientistas podem inserir, remover ou modificar o código genético.
O primeiro paciente da edição genética
Em 2025, tivemos o primeiro paciente tratado com sucesso com CRISPR-Cas9. O caso aconteceu no Children’s Hospital of Philadelphia (CHOP), nos EUA, e foi descrito em um estudo publicado pelo The New England Journal of Medicine. Por meio da história desse paciente, um bebê identificado pelas iniciais KJ, podemos entender a importância da terapia de edição genética e como ela pode salvar vidas.
KJ tinha apenas dois dias de vida no Hospital da Universidade da Pensilvânia (Penn) quando seu quadro clínico apresentou manifestações típicas de distúrbios do ciclo da ureia, como hiperamonemia. Essa condição genética é causada por deficiências em enzimas específicas, que levam ao acúmulo tóxico de amônia no corpo. É uma condição grave. O bebê foi levado para o CHOP, considerado referência em diagnóstico, tratamento e pesquisa de distúrbios do ciclo da ureia.
No CHOP, o tratamento foi realizado sob protocolo de acesso expandido, procedimento aprovado pelo FDA e pelo Comitê de Ética Institucional. KJ recebeu a primeira infusão do tratamento experimental com aproximadamente 6 meses de idade, depois de acompanhamento clínico e estabilização metabólica.
Risco de danos ao cérebro e fígado
No CHOP, KJ foi colocado em diálise para filtrar a amônia do sangue. Um teste genômico sofisticado mostrou que o distúrbio do bebê era uma deficiência de carbamoil-fosfato sintase 1, causada pelo gene CPS1. Essa deficiência impede o organismo de decompor completamente os subprodutos do metabolismo proteico no fígado, causando o acúmulo de amônia a níveis tóxicos.
O tratamento incluiu uma dieta com baixo teor de proteína até que a criança tivesse idade suficiente para um transplante de fígado. Mas, durante esse período de espera, existia o risco de falência dos órgãos devido a fatores, como infecção, trauma ou desidratação. Altos níveis de amônia também podiam causar coma, edema cerebral ou danos cerebrais permanentes. O quadro poderia ser fatal.
Genética personalizada
Uma equipe de pesquisadores do CHOP e da Universidade da Pensilvania (PENN) já estudava há cerca de dois anos, antes do nascimento de KJ, como usar a edição genética, com base na plataforma CRISPR, para criar tratamentos personalizados para doenças como a deficiência de CPS1. Essa equipe desenvolveu uma terapia para o distúrbio genético específico de KJ. A possibilidade foi apresentada aos pais do bebê. Eles concordaram com a terapia e KJ se tornou o primeiro paciente a receber um medicamento sistêmico de edição genética personalizada.
Desde o início, pesquisadores, médicos e os pais de KJ sabiam que não havia garantias de sucesso. Era a primeira vez que o tratamento estava sendo testado em um ser humano. Mas KJ respondeu positivamente. Os médicos conseguiram corrigir a mutação genética específica nas células hepáticas do bebê que levou ao distúrbio. Esse caso estabeleceu bases para desenvolver tratamentos para outras condições genéticas raras e foi um marco na especialidade.
Se você quiser conhecer mais sobre essa história, clique aqui e confira.